Original em inglês: Are Judaism and Christianity as Violent as Islam?
Tradução: Jose
“Há muito mais violência na Bíblia do que no Alcorão; a idéia de que o Islã se impôs pela espada é uma ficção ocidental, fabricada durante o período das Cruzadas, quando, na verdade, eram os cristãos ocidentais que estavam lutando guerras santas brutais contra o Islã.”[1] Assim anuncia a ex-freira e auto-proclamada “monoteísta freelance” Karen Armstrong. Esta citação resume o mais influente argumento atualmente utilizado para desviar a acusação de que o Islão é intrinsecamente violento e intolerante: todas as religiões monoteístas, dizem os defensores de tal argumento, e não apenas o Islã, tem seu quinhão de escrituras violentas e intolerantes, bem como histórias sangrentas. Assim, sempre que as sagradas escrituras do Islã – primeiro o Alcorão, seguido pelos relatos sobre as palavras e atos de Maomé (o Hadith) – são destacadas como demonstrativo da belicosidade inata da religião islâmica, a réplica imediata é que as outras escrituras, especificamente as judáico-cristãs, estão repletas de passagens violentas.
Este argumento, muito frequentemente, põe fim a qualquer discussão sobre se violência e intolerância são únicas ao Islã. Em vez disso, ele se torna como resposta padrão de que não é o Islã em si que leva à violência, mas sim que as reclamações e frustrações dos muçulmanos – sempre agravadas por fatores econômicos, políticos e sociais – são os verdadeiros fatos que os levam à violência. Esta visão se torna ainda mais inquestionável por se encaixar perfeitamente com a epistemologia “materialista” de um Ocidente secular.
Portanto, antes de condenar o Alcorão e as palavras e ações históricas do profeta Maomé por incitarem violência e intolerância, os judeus são aconselhados a considerarem as atrocidades históricas cometidas por seus antepassados hebreus como registrado em suas próprias escrituras; e os cristãos são aconselhados a considerarem o ciclo de violência brutal que seus antepassados cometeram em nome de sua fé, contra não-cristãos e contra companheiros cristãos. Em outras palavras, os judeus e os cristãos são lembrados de que aqueles que vivem em casas de vidro não devem sair atirando pedras.
Mas será que esse é realmente o caso? Será algo legítimo fazer uma analogia com outras escrituras? Teria sido a violência hebraica na antiguidade, e violência cristã na era medieval, comparáveis de algum modo com a tenacidade da violência muçulmana na era moderna?
Violência na História Judaica e Cristã
Juntamente com Karen Armstrong, qualquer número de proeminentes escritores, historiadores e teólogos têm defendido esta visão “relativista”. Por exemplo, John Esposito, diretor do Centro para Compreensão Muçulmano-Cristão Príncipe Alwaleed bin Talal, da Universidade de Georgetown, se pergunta:
Como é que nós continuamos fazendo a mesma pergunta [sobre violência no Islã] e não fazemos a mesma pergunta sobre o cristianismo e judaísmo? Judeus e cristãos se envolveram em atos de violência. Todos nós temos o transcendente e o lado escuro. … Nós temos nossa própria teologia do ódio. Na corrente principal do cristianismo e do judaísmo, nós tendemos a ser intolerantes; nós aderimos a uma teologia exclusivista, de nós contra eles [2].
Um artigo escrito pelo professor de humanidades Philip Jenkins, da Pennsylvania State University, intitulado “Dark Passages”, delineia essa posição mais plenamente. Ele aspira a mostrar que a Bíblia é mais violenta do que o Alcorão:
Em termos de violência e derramamento de sangue, qualquer afirmação simplista sobre a superioridade da Bíblia sobre o Alcorão seria totalmente errada. De fato, a Bíblia está inundada com “textos de terror”, para tomar emprestada uma frase cunhada pelo teólogo americano Phyllis Trible. A Bíblia contém muito mais versos elogiando ou pedindo pelo derramamento de sangue do que o Alcorão, e a violência bíblica é muitas vezes muito mais extrema, e marcada por mais selvageria indiscriminada. … Se o texto fundador molda toda a religião, então o judaísmo e o cristianismo merecem a condenação máxima como religiões de selvageria. [3]
Várias histórias da Bíblia, bem como da história judaico-cristã, ilustram o ponto de Jenkins, mas duas em especial – uma supostamente representativa do judaísmo, e outra do cristianismo – são regularmente citadas e, portanto, merecem um exame mais detalhado.
A conquista militar da terra de Canaã pelos hebreus, em cerca de 1200 AC, é muitas vezes caracterizada como “genocídio”, tendo-se tornado emblemática da violência e intolerância bíblica. Deus disse a Moisés:
Mas das cidades destas nações que o Senhor teu Deus te dá em herança, você não deve deixar permanecendo vivo nada que respire, mas você deve destruí-los totalmente – os heteus, amorreus, cananeus, ferezeus, heveus e jebuseus – exatamente como Senhor, teu Deus, te ordenou, para que eles não vos ensinem a fazer todas as abominações que eles fizeram aos seus deuses e o levem a pecar contra o Senhor, teu Deus. [4]
Então, [o sucessor de Moisés] Josué conquistou toda a terra: o país da montanha e do Sul e da planície e as encostas selvagens, e todos os seus reis; nada deixou, mas destruiu totalmente tudo o que respirava, como o Senhor, Deus de Israel, havia ordenado. [5]
Quanto ao cristianismo, já que é impossível encontrar versículos do Novo Testamento incitando à violência, aqueles que defendem a visão de que o cristianismo é tão violento quanto o Islã dependem de acontecimentos históricos, como a guerra travada pelos crusados cristãos europeus entre os séculos XI e XIII. As Cruzadas foram, de fato, violentas e levaram a atrocidades, quando julgadas segundo os padrões do mundo moderno, sob a bandeira da cruz e em nome do cristianismo. Depois de ultrapassar os muros de Jerusalém, em 1099, por exemplo, os cruzados teriam abatido quase todos os habitantes da Cidade Santa. De acordo com a crônica medieval, o Gesta Danorum, “a matança foi tão grande que nossos homens caminharam com sangue até os tornozelos.” [6]
Em face do exposto, como Armstrong, Esposito, Jenkins, e outros argumentam, por que judeus e cristãos apontam para o Alcorão como prova da violência do Islã, ignorando as suas próprias escrituras e a história?
A Bíblia contra o Alcorão
A resposta reside no fato de que tais observações confundem história e teologia, por combinar as as ações temporais dos homens com o que entende-se como sendo as palavras imutáveis de Deus. O erro fundamental é que a história judaico-cristã – que é violenta – está sendo confundida com a teologia islâmica – que comanda violência. Claro, as três grandes religiões monoteístas têm tido a sua quota de violência e intolerância para com o “outro”. A questã-chave é se essa violência é ordenada por Deus, ou se são os homens belicosos que a desejam.
A violência do Antigo Testamento é um caso interessante. Deus claramente ordenou os hebreus a aniquilar os cananeus e povos vizinhos. Essa violência é, portanto, uma expressão da vontade de Deus, para o bem ou para o mal. Independentemente disso, toda a violência histórica cometida pelos hebreus e registrada no Antigo Testamento é apenas isso: história. Foi o que aconteceu. Deus ordenou. Mas ela girava em torno de um determinado tempo e lugar e foi dirigida contra um povo específico. Em nenhum momento esse tipo de violência tornou-se padrão ou foi codificada na lei judaica. Em suma, os relatos bíblicos de violência são descritivos, não prescritivos.
Este é o lugar onde a violência islâmica é única. Embora semelhante à violência do Velho Testamento – ordenada por Deus e manifesta na história – certos aspectos da violência e intolerância islâmica tornaram-se padronizados na lei islâmica, e se aplicam em todos os momentos. Assim, enquanto a violência encontrada no Alcorão tem um contexto histórico, o seu significado final é teológico. Considere os seguintes versos do Alcorão, mais conhecidos como os “versos da espada”:
Então, quando os meses sagrados passarem, mate os idólatras onde quer que você os encontre, e capture-os, e cerque-os, e prepare para eles para todas as emboscadas. Mas se eles se arrependerem e executarem e realizarem as orações rituais e pagarem as esmolas, então deixe o seu caminho livre. [7]
Lute contra aqueles que não crêem em Deus, nem no Dia do Juízo, e nem proíbem o que foi proibido por Deus e Seu Mensageiro – esses homens não praticam a religião da verdade, sendo aqueles a quem o Livro foi dado – até que paguem a Jizya com submissão voluntária, e se sejam humilhados. [8]
Tal como acontece com versículos do Velho Testamento, onde Deus ordenou aos hebreus a atacar e matar os seus vizinhos, os versos da espada também têm um contexto histórico. Deus emitiu pela primeira vez estes mandamentos depois que os muçulmanos, sob a liderança de Maomé, tinham crescido suficientemente fortes para invadir seus vizinhos cristãos e pagãos. Mas ao contrário dos versos bélicos e anedotas do Antigo Testamento, os versos da espada tornaram-se fundamentais para o relacionamento posterior do Islã para com o “povo do livro” (isto é, judeus e cristãos) e os “idólatras” (ou seja, hindus, budistas, animistas, etc) e, de fato, justificaram o desencadear das conquistas islâmicas, que mudaram a face do mundo para sempre. Baseado no Alcorão 9:5, por exemplo, a lei islâmica determina que idólatras e politeístas devem se converter ao islamismo ou serem mortos; simultaneamente, o Alcorão 9:29 é a principal fonte das bem-conhecidas práticas discriminatórias do Islã contra os cristãos e os judeus conquistados vivendo sob a suserania islâmica.
De fato, com base nos versos da espada, bem como em inúmeros outros versículos do Alcorão e as tradições orais atribuídas a Maomé, os doutores do Islã, xeques, muftis e imãs, ao longo dos tempos, chegaram todos a um consenso – atando toda a comunidade muçulmana – de que o Islã está em guerra perpétua contra todo o mundo não-muçulmano até que este último seja subjugado. De fato, é amplamente aceito pelos estudiosos muçulmanos que, como os versos da espada estão entre as revelações finais sobre o tema da relação do Islã com não-muçulmanos, estes versos anularam cerca de 200 versos anteriores do Alcorão, versos estes mais tolerantes, tais como “não há compulsão na religião”. [9] O famoso erudito muçulmano Ibn Khaldun (1332-1406), admirado no Ocidente por suas idéias “progressistas”, também coloca por terra a noção de que a jihad é guerra defensiva:
Na comunidade muçulmana, a guerra santa [Jihad] é um dever religioso, por causa do universalismo da missão muçulmana e da obrigação de converter todos ao Islã, ou pela persuasão ou pela força … Os outros grupos religiosos não tinham uma missão universal, e a guerra santa não era um dever religioso para eles, a não ser para fins de defesa … Eles são apenas requeridos a estabelecerem a sua religião entre seu próprio povo. É por isso que os israelitas, depois de Moisés e Josué, permaneceram indiferentes com autoridade real [por exemplo, um califado]. Sua única preocupação era estabelecer a sua religião [e não espalhá-la entre as nações] … Mas o Islã está sob a obrigação de ganhar o poder sobre outras nações. [10]
Autoridades modernas concordam. A Enciclopédia do Islã, no tocante a “jihad”, por Emile Tyan, afirma que a “propagação do Islã pelas armas é um dever religioso aos muçulmanos em geral … Jihad deve continuar a ser feita até que o mundo inteiro esteja sob o domínio do Islã … o Islã deve estar inteiramente com o controle de tudo antes que a doutrina da jihad [guerra para espalhar o Islão] possa ser eliminada.” O jurista iraquiano Majid Khaduri (1909-2007), após definir jihad como guerra, escreve que a “jihad … é considerada por todos os juristas, com quase nenhuma exceção, como uma obrigação coletiva de toda a comunidade muçulmana”. [11] E, claro, manuais jurídicos muçulmanos escritos em árabe são ainda mais explícitos. [12]
O Idioma do Alcorão
Quando os versos violentos do Alcorão são justapostos com versículos do Antigo Testamento, eles são especialmente diferentes por usarem uma linguagem que transcende tempo e espaço, incitando os fiéis a atacar e matar os descrentes hoje do mesmo modo que ontem. Deus ordenou aos hebreus a matarem heteus, amorreus, cananeus, ferezeus, heveus e jebuseus – todos estes povos enraizados em um determinado tempo e lugar. Em nenhum momento Deus deu um comando em aberto para os hebreus, e por extensão os seus descendentes judeus, para lutar e matar os gentios. Por outro lado, muito embora os inimigos originais do Islã, como no judaísmo, tenham sido históricos (por exemplo, os cristãos bizantinos e os persas zoroastras), o Alcorão raramente os menciona por seus próprios nomes. Em vez disso, os muçulmanos eram (e são) ordenados a lutarem contra o povo do livro “até que paguem o tributo e sejam humilhados” [13] e “matem os idólatras onde quer que você os encontre”. [14]
As duas conjunções árabe “até” (hata) e “sempre que” (haythu) demonstram a natureza perpétua e onipresente desses mandamentos: Ainda existe o “povo do livro” que ainda tem que ser “totalmente humilhado” (especialmente nas Américas, Europa e Israel) e os “idólatras”, a serem mortos “sempre que” se olha (especialmente na Ásia e África subsaariana). Na verdade, a característica saliente de quase todos os mandamentos violentos nas escrituras islâmica é a sua natureza aberta e genérica: “Combata-os [os não-muçulmanos] até que não haja perseguição e a religião seja inteiramente de Deus [ênfase adicionada.].” [15] Além disso, em uma tradição bem atestada que aparece nas coleções dos hadith, Maomé proclama:
Eu fui ordenado a fazer guerra contra toda a humanidade até que eles testemunhem que não há nenhum deus além de Deus e que Maomé é o mensageiro de Deus; e que eles estabaleçam a oração de prostração, e paguem a esmola de impostos [isto é, se convertam ao Islã]. Se eles fizerem isso, o sangue e a propriedade deles serão protegidos. [ênfase adicionada]. [16]
Este aspecto lingüístico é crucial para entender as exegeses com relação à violência. Novamente, vale a pena repetir que nem as escrituras judáicas e cristãs, os Velho e Novo Testamentos, respectivamente, empregam mandamentos semelhantes de forma perpétua e aberta. Apesar de tudo isso, Jenkins lamenta que:
Comandos para matar, para cometer uma limpeza étnica, para institucionalizar a segregação, a odiar e temer outras raças e religiões … estão todos na Bíblia, e ocorrem com uma freqüência muito maior do que no Alcorão. Em cada etapa, pode-se argumentar o que as passagens em questão significam, e certamente se elas têm qualquer relevância para idades posteriores. Mas o fato é que as palavras estão lá, e sua inclusão na escritura significa que elas são, literalmente, canonizadas, nada menos do que na escritura muçulmana. [17]
Pode-se pergunta o que Jenkins tem em mente ao usar a palavra “canonizado”. Se por canonizado ele quer dizer que tais versos são considerados parte do cânone da escritura judaico-cristã, ele está absolutamente correto. Inversamente, se por canonizado ele significa, ou está tentando conotar, que estes versos têm sido implementados na ideologia judaico-cristã, ele está absolutamente errado.
No entanto, não é preciso confiar em argumentos puramente exegéticos e filológicos, história e acontecimentos atuais, para desmascarar o relativismo de Jenkins. Considerando que o cristianismo do primeiro século se espalhou através do sangue de seus mártires, o islamismo do seu primeiro século se espalhou através da conquista violenta e derramamento de sangue. Na verdade, desde o primeiro dia até o presente, sempre que possível, a propagação do Islã tem-se dado através da conquista, como evidenciado pelo fato de que a maioria do que é agora conhecido como o mundo islâmico, ou Dar al-Islã, foi conquistado pela espada do Islã. Este é um fato histórico, atestado pelos mais respeitados historiadores islâmicos. Mesmo a península da Arábia, a “casa” do Islã, foi subjugada através de grande força e derramamento de sangue, como evidenciado pelas guerras Ridda após a morte de Maomé, quando dezenas de milhares de árabes foram mortos pela espada do primeiro califa Abu Bakr por abandonarem o islamismo.
O papel de Maomé
Além disso, no tocante à posição padrão atual que se propõe a explicar a violência islâmica como um produto da frustração de muçulmano em relação a opressão política ou econômica, deve-se perguntar: o dizer sobre todos os cristãos e judeus oprimidos, para não mencionar os hindus e budistas, do mundo de hoje? Onde está a sua violência religiosamente travestida? O fato permanece: mesmo que o mundo islâmico tenha a parte do leão das manchetes dramáticas da violência, do terrorismo, homens-bomba, decapitações, o mundo islâmico certamente não é a única região do mundo que sofre pressões internas e externas.
Por exemplo, apesar de praticamente toda a África sub-saariana estar cheia de corrupção política, opressão e pobreza, quando se trata de violência, terrorismo, caos completo, a Somália – que é o único país sub-saariano que é inteiramente muçulmano – lidera o grupo. Além disso, os principais responsáveis pela violência na Somália e pela execução de medidas legais intolerantes e draconianas, são os membros do grupo Jihadista Al-Shabab (o jovem) – articulando e justificando todas as suas ações através de um paradigma islâmico.
No Sudão, também, uma jihad de genocídio contra os povos cristãos e politeístas está sendo travada pelo governo islâmico de Cartum e deixou quase um milhão de “infiéis” e “apóstatas” mortos. O fato que a Organização da Conferência Islâmica veio em defesa do presidente sudanês Hassan Ahmad al-Bashir, que é procurado pelo Tribunal Penal Internacional, é um fato ainda mais revelador da aprovação da violência pelo corpo Islâmico tanto contra não-muçulmanos como contra todos aqueles não considerados como suficientemente muçulmanos.
Os países da América Latina e os países asiáticos não-muçulmanos também têm o seu quinhão de opressores, de regimes autoritários, de pobreza, e todo o resto que o mundo muçulmano sofre. No entanto, ao contrário das manchetes diárias que emanam do mundo islâmico, não há registros de cristãos praticantes, budistas ou hindus jogando veículos carregados de explosivos nos edifícios de regimes opressivos (comunistas, por exemplo, cubano ou chinês), enquanto acenam as suas escrituras na mão gritando: “Jesus [ou Buda ou Vishnu] é o maior!” Por quê?
Há um aspecto final que é muitas vezes esquecido, ou por ignorância ou desonestidade por aqueles que insistem que a violência e a intolerância é equivalente em toda a linha para todas as religiões. Além das palavras divinas do Alcorão, o padrão de comportamento de Maomé – o que define a sua sunna ou seu “exemplo” – é uma fonte extremamente importante da legislação islâmica. Os muçulmanos são exortados a imitar Maomé em todas as esferas da vida: “Você tem um bom exemplo no Mensageiro de Deus.” [18] O padrão de conduta de Maomé para contra os não-muçulmanos é bastante explícito.
Sarcasticamente, argumentando contra o conceito do Islã moderado, por exemplo, o terrorista Osama bin Laden, que tem o apoio de metade do mundo islâmico árabe, segundo uma pesquisa de opinião da Al-Jazeera, [19] retrata sunna do Profeta assim:
“Moderação” é demonstrada pelo nosso profeta que não permaneceu mais de três meses em Medina sem invadir ou enviar um grupo de ataque para as terras dos infiéis, para bater em seus redutos, e aproveitar as suas posses, suas vidas, e suas mulheres. [20]
De fato, com base tanto no Alcorão e como na sunna de Maomé, pilhagens e saques de infiéis, escravização dos seus filhos, e colocar as suas mulheres em concubinato, é procedente. [21] E o conceito de sunna – raiz da palavra sunita, a facção adotada por 90 por cento dos mais de um bilhão de muçulmanos – essencialmente afirma que qualquer coisa realizada ou aprovada por Maomé, o exemplo mais perfeito da humanidade, é aplicável para os muçulmanos de hoje do mesmo jeito que era para os muçulmanos de ontem. Isto, naturalmente, não significa que os muçulmanos em massa vivam apenas para saque e estupro.
Mas isso significa que as pessoas naturalmente inclinadas a tais atividades, e que acontecem também de serem muçulmanas, podem, e fazem, muito facilmente justificar as suas ações, referindo-se a “Sunna do Profeta” – a forma como a Al-Qaeda, por exemplo, justificou seus ataques em 9/11, onde inocentes, incluindo mulheres e crianças, foram mortos: Maomé autorizou seus seguidores a usarem catapultas durante o cerco da cidade de Taif, em 630 AD – os seus habitantes haviam se recusado a submeter-se – mesmo ciente de que mulheres e crianças estavam abrigadas lá. Além disso, quando lhe perguntaram se era permitido lançar incursões noturnas ou atear fogo nas fortificações dos infiéis se mulheres e crianças estivessem entre elas, reporta-se que o Profeta teria respondido: “Eles [as mulheres e as crianças] são de dentro deles [dos infiéis]”. [22]
As maneiras dos judeus e cristãos
Embora centrado na lei e possivelmente legalista, o judaísmo não tem equivalente à Sunna: as palavras e ações dos patriarcas, embora descritas no Antigo Testamento, nunca passaram a prescrever a lei judaica. Nem as “mentiras brancas” de Abraão, nem a perfídia de Jacó, nem o fusível curto de Moisés, nem o adultério de Davi, nem o mulherengo Salomão, jamais passaram a instruir os judeus ou cristãos. Eles foram entendidos como atos históricos perpetrados por homens imperfeitos, que eram muito frequentemente punidos por Deus devido ao seu comportamento abaixo do ideal.
Quanto ao cristianismo, grande parte da lei do Antigo Testamento foi revogada ou cumprida – dependendo da perspectiva – por Jesus. “Olho por olho” deu lugar a “virar a outra face”. Amar totalmente a Deus e ao próximo se tornou a lei suprema [23]. Além disso, a sunna de Jesus – como se costuma perguntar “O que Jesus faria?” – é caracterizada pela passividade e pelo altruísmo. O Novo Testamento contém absolutamente nenhuma exortações à violência.
Ainda assim, existem aqueles que tentam retratar Jesus como tendo um caráter igualmente militante como Maomé, citando o verso onde Jesus – que “falou às multidões por parábolas e sem parábolas não falava” [24], disse: “Venho não para trazer paz, mas espada “. [25] Mas, com base no contexto desta declaração, é claro que Jesus não estava ordenando violência contra não-cristãos, mas, ao invés disto, prevendo que vai existir contenda entre cristãos e seu ambiente – uma previsão que foi verdadeira para os primeiros cristãos que, longe de empunharem a espada, passivamente pereceram pela espada no martírio como muitas vezes eles ainda o fazem no mundo muçulmano de hoje. [26]
Outros apontam para a violência prevista no Livro de Apocalipse, enquanto, novamente, não conseguindo discernir que todo o relato é descritivo – sem dizer que é claramente simbólico – e, portanto, dificilmente prescritivo para os cristãos. De qualquer forma, como alguém pode conscientemente comparar estes punhados de versículos do Novo Testamento que metaforicamente mencionam a palavra “espada” com as centenas de injunções corânicas literais e declarações de Maomé que claramente ordenam os muçulmanos para empunharem uma espada de verdade contra os não-muçulmanos?
Implacável, Jenkins lamenta o fato de que, no Novo Testamento, os judeus “planejam apedrejar Jesus, eles fazem um complô para matá-lo. Por sua vez, Jesus os chama de mentirosos, filhos do diabo” [27]. Fica para ser decidido se ser chamado de “filhos do Diabo” é mais ofensivo do que ser referidos como os descendentes de macacos e porcos – o modo que o Alcorão chama os judeus. [28] Colocando as ofensas de lado, no entanto, o que importa aqui é que, enquanto o Novo Testamento não ordena os cristãos a tratarem os judeus como “filhos do Diabo”, baseado no Alcorão, principalmente 9:29, a lei, islâmica obriga os muçulmanos a subjugar os judeus, na verdade, subjugar todos os não-muçulmanos.
Isso significa que nenhum auto-proclamado cristão pode ser anti-semita? Claro que não. Mas isso significa que cristãos anti-semitas são paradoxos vivos – pela simples razão de que textualmente e teologicamente, o cristianismo, longe de ensinar o ódio ou a animosidade, de forma inequívoca salienta amor e perdão. Se todos os cristãos seguem ou não tais mandatos não é o ponto; do mesmo modo que não é o ponto se todos os muçulmanos mantêm a obrigação da jihad. A única questão é: o que as religiões ordenam?
John Esposito é, portanto, correto ao afirmar que “judeus e cristãos se envolveram em atos de violência.” Ele está errado, no entanto, ao acrescentar: “Nós [os cristãos] temos a nossa própria teologia do ódio.” Nada no Novo Testamento ensina ódio – certamente nada que se compare com as injunções corânicas, tais como: “Nós [os muçulmanos] não acreditamos em vocês [não-muçulmanos], e entre nós e você inimizade tem se mostrado, e do ódio para sempre até que você acredite em Deus”. [29]
Reavaliando as Cruzadas
E é a partir daqui que se pode melhor apreciar as Cruzadas de um ponto de vista histórico – eventos que foram completamente distorcidos por muitos apologistas influentes do Islã. Karen Armstrong, por exemplo, praticamente fez uma carreira para si mesma desvirtuando as Cruzadas, escrevendo, por exemplo, que “a idéia de que o Islã se impôs pela espada é uma ficção ocidental, fabricada durante o período das Cruzadas, quando, na verdade, era os cristãos ocidentais que estavam lutando guerras santas brutais contra o Islã” [30]. O fato de uma ex-freira condenar as Cruzadas, de modo raivoso, sem nada mencionar sobre o que o Islã fez, tornou a sua crítica ainda mais comercializável. No entanto, declarações como esta ignoram o fato de que desde os primórdios do Islã, mais de 400 anos antes das cruzadas, os cristãos perceberam que o Islão foi disseminado pela espada [31]. De fato, historiadores muçulmanos com autoridade escrevendo séculos antes das Cruzadas, como Ahmad Ibn Yahya al-Baladhuri (m. 892) e Muhammad ibn Jarir at-Tabari (838-923), deixam claro que o Islão foi disseminada pela espada.
O fato permanece: as Cruzadas foram um contra-ataque sobre o Islã, e não um ataque não provocado como Armstrong e outros historiadores revisionistas retratam. O eminente historiador Bernard Lewis coloca-o bem:
Mesmo a cruzada cristã, muitas vezes comparada com a jihad muçulmana, foi em si uma resposta tardia e limitada à jihad e em parte também uma imitação. Mas ao contrário da jihad, a principal preocupação era com a defesa ou reconquista de territórios cristãos perdidos ou ameaçados. Foi, com poucas exceções, limitadas às guerras bem sucedidas para a recuperação do sudoeste da Europa, e as guerras infrutíferas para recuperar a Terra Santa e para deter o avanço otomano nos Balcãs. A jihad muçulmana, ao contrário, foi entendida como ilimitada, como uma obrigação religiosa que continuaria até que todo o mundo ou tenha adotado a fé muçulmana ou se submetido ao domínio muçulmano. … O objeto da jihad é trazer o mundo inteiro sob a lei islâmica [32].
Além disso, as invasões muçulmanas e as atrocidades contra os cristãos estavam em alta nas décadas antes do lançamento das Cruzadas, em 1096. O califa fatímida Abu ‘Mansur Tariqu’l-Hakim (r. 996-1021) profanou e destruiu um número importante de igrejas, tais como a Igreja de São Marcos no Egito e a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, e decretou decretos ainda mais opressivo do que o habitual contra os cristãos e judeus. Então, em 1071, os turcos seljúcidas esmagaram os bizantinos na crucial batalha da Manzikert e, de fato, conquistaram uma grande fatia da Anatólia bizantina, pressagiando o caminho para a eventual captura de Constantinopla séculos mais tarde.
Foi neste contexto que o Papa Urbano II (r. 1088-1099) chamou para as Cruzadas:
A partir dos limites de Jerusalém e da cidade de Constantinopla, um conto horrível e freqüente foi trazido para os nossos ouvidos, ou seja, que uma raça oriunda do reino dos persas [ou seja, os muçulmanos turcos] … invadiu as terras daqueles cristãos, despovoadas pela espada, pilhagem e incêndio; eles levaram uma parte dos cativos para o seu próprio país, e uma outra parte destruiu com torturas cruéis; eles têm destruído totalmente as igrejas de Deus ou se apropriado delas para os ritos de sua própria religião [33].
Muito embora a descrição de Urbano II ser historicamente precisa, o fato permanece: independente de se interpretar estas guerras como ofensivas ou defensivas, justas ou injustas, é evidente que elas não foram feitas com base no exemplo de Jesus, que exortou seus seguidores a “amai o seu inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai por aqueles que maldosamente vos maltratam e perseguem [34]”. Na verdade, demoram-se séculos de debate teológico, de Agostinho a Tomás de Aquino, para racionalizar a guerra defensiva articuladas como “guerra justa”. Assim, parece que se alguém, foram as cruzadas – não os jihadistas – que foram menos fiéis às suas escrituras (do ponto de vista literal); ou olhando por outro lado, são os jihadistas, e não os cruzados, que vêm fielmente cumprindo as suas escrituras (também a partir de um ponto de vista literal). Além disso, como os contos violentos do Antigo Testamento, as Cruzadas são manifestações históricas e não manifestação de quaisquer verdades mais profundas nas escrituras.
Na verdade, longe de sugerir alguma coisa intrínseca ao cristianismo, as Cruzadas ajudam, ironicamente, a explicar melhor o Islã. Pois, o que as Cruzadas demonstram, de uma vez por todas, é que, independentemente de ensinamentos religiosos – de fato, no caso destas auto-intituladas Cruzadas cristãs, apesar delas – o homem é muitas vezes predisposto à violência. Mas isso levanta a questão: se essa é a forma de como os cristãos se comportaram – cristãos que são ordenados a amar, abençoar e fazer o bem aos seus inimigos que os odeiam, os amaldiçoam, e os perseguem – o quanto pode-se esperar de muçulmanos que, compartilhando das mesmas tendências violentas, são ainda comandados pela sua divindade para atacar, matar e saquear os não crentes?
[1] Andrea Bistrich, “Discovering the common grounds of world religions,” interview with Karen Armstrong, Share International, Sept. 2007, pp. 19-22.
[2] C-SPAN2, June 5, 2004.
[3] Philip Jenkins, “Dark Passages,” The Boston Globe, Mar. 8, 2009.
[4] Deut. 20:16-18.
[5] Josué. 10:40.
[6] “The Fall of Jerusalem,” Gesta Danorum, accessed Apr. 2, 2009.
[7] Alcorão 9:5. All translations of Qur’anic verses are drawn from A.J. Arberry, ed. The Koran Interpreted: A Translation (New York: Touchstone, 1996).
[8] Alcorão 9:29.
[9] Alcorão 2:256.
[10] Ibn Khaldun, The Muqudimmah: An Introduction to History, Franz Rosenthal, trans. (New York: Pantheon, 1958,) vol. 1, p. 473.
[11] Majid Khadduri, War and Peace in the Law of Islam (London: Oxford University Press, 1955), p. 60.
[12] Ver, por exemplo, Ahmed Mahmud Karima, Al-Jihad fi’l-Islam: Dirasa Fiqhiya Muqarina (Cairo: Al-Azhar University, 2003).
[13] Alcorão 9:29.
[14] Alcorão 9:5.
[15] Alcorão 8:39.
[16] Ibn al-Hajjaj Muslim, Sahih Muslim, C9B1N31; Muhammad Ibn Isma’il al-Bukhari, Sahih al-Bukhari(Lahore: Kazi, 1979), B2N24.
[17] Jenkins, “Dark_Passages.”
[18] Alcorão 33:21.
[19] “Al-Jazeera-Poll: 49% of Muslims Support Osama bin Laden,” Sept. 7-10, 2006, accessed Apr. 2, 2009.
[20] ‘Abd al-Rahim ‘Ali, Hilf al Irhab (Cairo: Markaz al-Mahrusa li ‘n-Nashr wa ‘l-Khidamat as-Sahafiya wa ‘l-Ma’lumat, 2004).
[21] For example, Alcorão 4:24, 4:92, 8:69, 24:33, 33:50.
[22] Sahih Muslim, B19N4321; for English translation, see Raymond Ibrahim, The Al Qaeda Reader (New York: Doubleday, 2007), p. 140.
[23] Mateus. 22:38-40.
[24] Mateus. 13:34.
[25] Mateus. 10:34.
[26] Ver, por exemplo, “Christian Persecution Info,” Christian Persecution Magazine, accessed Apr. 2, 2009.
[27] Jenkins, “Dark_Passages.”
[28] Alcorão 2:62-65, 5:59-60, 7:166.
[29] Alcorão 60:4.
[30] Bistrich, “Discovering the common grounds of world religions,” pp. 19-22; Para uma crítica do trabalho de Karen Armstrong leia “Karen Armstrong,” in Andrew Holt, ed. Crusades-Encyclopedia, Apr. 2005, accessed Apr. 6, 2009.
[31] Ver, por exemplo, os escritos de Sophrinius, o patriarca de Jerusalém durante a conquista muçulmana da Cidade Sante, apenas alguns anos aós a morte de Maomé, ou as cronicas de Theophane, o Confessor.
[32] Bernard Lewis, The Middle East: A Brief History of the Last 2000 Years (New York: Scribner, 1995), p. 233-4.
[33] “Speech of Urban—Robert of Rheims,” in Edward Peters, ed., The First Crusade: The Chronicle of Fulcher of Chartres and Other Source Materials (Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1998), p. 27.
[34] Mateus. 5:44.
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